domingo, 20 de junho de 2010

Maniqueísmo: Essência do Mal?

A filosofia maniqueísta se propôs assim como o gnosticismo a ser a delineadora dos contornos entre as duas forças opostas e totalizantes do universo, que por ela foi reduzido a apenas dois princípios: o Bem e o Mal. Toda a ética que conhecemos é fruto dessa dualidade que cria percepções de certo e errado a partir das relações das ações humanas com cada um dos princípios. A infinitude de comportamentos possíveis foi assim enclausurada em duas categorias estanques a partir das quais o mundo é explicado. É possível ver nessa visão a relação com o dualismo das valorações na Lógica Clássica, que comportavam apenas verdadeiro e falso para qualquer proposição. A abrangência dessa filosofia é tão à mostra quando percebemos o quanto o pensamento moderno é moldado por oposições: útil e inútil, negro e branco, belo e feio, mulher e homem, forte e fraco, mau e bom, pequeno e grande, dominante e dominado, inferior e superior, civilizado e bárbaro, etc.

São várias e reveladoras as implicações desse modelo mental acentuadamente na divisão dos seres humanos em dois gêneros: feminino e masculino, e na consolidação do gosto estético: belo e feio.

Feminino e masculino são por essa lógica elaborações que pretendem encerrar a multiplicidade de expressões humanas à suposta determinância que um e outro órgão genital impõe à identidade dos corpos. Todo e qualquer ser humano precisa ser encaixado em uma das categorias. Caso suas particularidades fujam à classificação é definido como desviante ou estranho, necessitado de promover correção. Daqui pode-se conceber a chance que há de tal dualismo trazer em si o germe da dominação, visto que o poder é dual em todas as suas manifestações. Não é por acaso que o mundo contemporâneo em praticamente todas as culturas se mostra machista e heterossexual. A dualidade nunca é equilibrada, há sempre um superior e um inferior. Em todas duplas categorias está presente o elemento poder.

A Estética em consequência apresenta um belo e seu inferior oposto. Aos intermediários a existência é negada. Se estendendo ela a toda realidade sensível, é notório perceber que os corpos humanos precisassem comportar-se em uma das duas. O feio e o belo aplicados aos corpos criou o racismo. Percebemos curiosamente que o padrão de beleza de uma época é sempre o da sociedade ou classe dominante de então.

O motivo de serem os negros, mulheres, glbtts, índios, animais, etc. inferiorizados no atual capitalismo é apenas mais uma das expressões da divisão binária da existência fundada numa relação de poder em que existindo apenas dois um deles precisa dominar por ser "naturalmente" superior.

David Wilkerson

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