segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Resumo do parágrafo 204 do Banquete de Platão

...o discurso continua (parágrafo 204) com Sócrates indagando sobre a qualificação que se deve dar aos que se dedicam à Filosofia, visto Diotima os ter deslocado tanto do lugar entre os sábios quanto da completa ignorância. Na medida em que somente o que se deseja pode ser alcançado e o desejo já traz consigo a ausência do objeto desejado para que se faça presente, o filósofo é o intermediário entre os extremos da sabedoria e ignorância, assim como o Amor que é amor do Belo, cujas características herdou do pai Engenho e da mãe Pobreza.

Mas, o Amor não existe apenas enquanto amor pelas coisas. Quem ama deseja algo a mais: posse. E com a posse das coisas boas se anseia chegar à felicidade, finalidade última do ser humano, segundo Diotima.

Se são todas as pessoas atingidas pelo Amor então todas amam as coisas belas, portanto as mesmas coisas, mas não são todos chamados de amantes porque, segundo Diotima, acostumou-se restringir o termo apenas àqueles conhecidos como amantes, excluindo daí todas as outras formas de amar: poetas, músicos, ginastas, filósofos, todos também são amantes.

Porém, o amor do Belo não se faz a não ser como maneira de criar, gerar, visto ser o objetivo do ser humano perpetuar sua fama ou com grandes feitos ou pela geração de filhos. Assim, Diotima constrói um conceito de Amor segundo o qual se deseja possuir o Belo para que nele se faça criar as mais nobres obras que conduzam à imortalidade.


David Wilkerson

Platão e a Academia

Existem duas formas de fecundidade: a do corpo e a da alma. A primeira dá origem a filhos; a segunda, a obras de inteligência, e a inteligência maior é a que permite o domínio de si para a justiça, que se expressa na vida pública da cidade. A fecundidade de que trata Platão é a de um professor, que é quem semeia discursos na alma do discípulo em comércio de experiências na
vida cotidiana de uma escola filosófica com os demais. A filosofia pode realizar-se apenas na comunidade de discípulos e mestres numa escola. Cleanto aprendeu mais convivendo com Zenão que com seus textos. Da mesma forma, Platão e Aristóteles sendo discípulos de Sócrates; e Metrodoro, Hermarco e Polieno, com Epicuro.

Não foi apenas Platão quem criou à epoca uma escola filosófica. Antístenes, Euclides de Megara, Aristipo de Cirene, foram alguns a realizar também o feito, mas não alcançaram a grandeza da Academia.

Platão conciliou duas maneiras muito singulares de pensamento da sua época. O diálogo, ironia e interesse às questões da vida herdou de Sócrates; e o pitagorismo lhe somou a fomação pelas matemáticas e sua aplicação na natureza, além do ideal de vida entre filósofos, visto que cita amavelmente Pitágoras em trechos da República.

Sua filosofia procura ser atuante. Não vê possibilidade em um governante ser sensato sem uma educação filosófica e sua intenção no estudo dela é primordialmente prática. Seu discurso é bem superior ao dos sofistas. Ensina para o amor ao bem e à transformação interior do homem. Não pretende formar apenas políticos, mas humanos por completo. Seus discípulos aspiravam na vida comum à virtude e investigação coletiva. O mestre não cobrava pelo ensino. E para a formação ideal de seus discípulos procurou integrá-los num ambiente que simulasse a cidade ideal necessária a essa educação. Se não pudessem governar uma cidade, regeriam, no entanto, seu próprio eu segundo essas regras. Platão desenvolve uma pedagogia em separado da cidade, prática também promovida pelos sofistas e, nesse ponto, divergente da educação preetendida por Sócrates, que noutro aspecto é par com Platão ao exaltar o contato pessoal e vivo pelo amor.

Não se sabe muito sobre o funcionamento da Academia. Era composta de membros mais velhos: os professores e investigadores, e os jovens, estudantes, que tiveram relevante participação na eleição do segundo sucessor de Platão: Xenócrates. Espeusipo, teria sido escolhido por Platão. Axiotéia, que se vestia com a túnica simples dos filósofos sem se envergonhar, e Lastenéia foram alunas dos dois mestres, caso que deve ser salientado. A matemática a e a astronomia eram parte dos estudos e Aristóteles permanece 20 anos na escola até começar a lecionar.

As ciências matemáticas, em particular a geometria, eram a parte elementar e inicial da formação do filósofo. Assim, a Academia desenvolveu a axiomática matemática para mais tarde Euclides compor os Elementos. Os futuros filósofos necessitavam debruçar-se sobre a dialética, mas só o faziam após terem alcançado suficiente maturidade (isso com 30 anos). À época, a dialética consistia numa habilidosa técnica de discussão em que alguém lançava uma tese e seu oponente retribuía-lhe com uma pergunta, mesmo sem possuir uma tese sua, para tentar fazer o defensor da tese concordar pelas respostas às suas perguntas com o contrário dessa tese. Esse método será vigente até o século I a. C.

Tal formação era indispensável numa cidade em que o discurso político assentava como caráter modelador dos cidadãos. Porém, Platão considerava a técnica discursiva simples faceta do exercício maior que representava a dialética. Ela precisava comportar a exigência da sensatez num rigor espiritual de combate do intelecto para a elaboração do lógos. O verdadeiro diálogo coloca cada participante como interlocutor, de forma a se evitar que um sobreponha sua verdade ao outro. Submete-se cada um à autoridade do lógos para se chegar à verdade. Mas, essa autoridade não é dogmática. Representa o acordo que cada um constrói para se efetivar o diálogo.

David Wilkerson